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Olhares sobre o Xingu

  • Foto do escritor: Camila Galvão
    Camila Galvão
  • 21 de mar. de 2023
  • 2 min de leitura

Parte importante da história da primeira grande terra indígena demarcada no Brasil, o Parque Indígena do Xingu, está contada nos acervos do Instituto Moreira Salles. O IMS abriga arquivos de quatro fotógrafos que estiveram na região a partir da década de 1940: Alice Brill, Henri Ballot, José Medeiros e Maureen Bisilliat. Eles documentaram o fascínio e a violência do contato entre brancos e indígenas, a força e a beleza das culturas xinguanas, e a longa campanha em defesa do Parque, criado em 1961.

Essas imagens, porém, contam apenas parte da história: o ponto de vista dos forasteiros. No podcast Xingu: terra marcada, recém-lançado pela Rádio Batuta, o acervo do IMS foi ponto de partida para uma série de conversas que buscaram abordar também outros aspectos. Lideranças indígenas, antropólogos e pesquisadores falaram sobre como os povos xinguanos viram a chegada dos brancos às suas terras e como se mobilizam contra as ameaças que enfrentam há séculos, até hoje. As entrevistas no Xingu foram realizadas pelos cineastas Kamikia Kisedje e Takumã Kuikuro, que vivem em aldeias da região.



Índio Xavante, 1949. Serra do Roncador, MT. Foto de José Medeiros/ Acervo IMS

Indígenas Camaiurá, 1952. Parque Indígena do Xingu, MT. Foto de José Medeiros/ Acervo IMS


O terceiro episódio do podcast, Olhares, discute o papel da fotografia nesses conflitos. Partindo dos primeiros retratos de indígenas brasileiros, feitos em Paris em 1844, o programa percorre a história das múltiplas representações do Xingu. Desde os registros produzidos no século 19 por viajantes europeus, passando pela documentação de expedições enviadas pelo Estado no século 20 e pela intensa cobertura jornalística sobre a campanha pela criação do Parque, até a revolução desencadeada nos últimos anos por cineastas indígenas.


Maureen Bisilliat (fotos abaixo) foi ao Xingu pela primeira vez em 1973, a convite de Orlando Villas-Bôas. Ia passar cinco semanas para apurar uma reportagem, mas acabou fazendo várias visitas ao longo de cinco anos. Assim surgiu o livro Xingu: território tribal, de 1979, que registra os detalhes de ornamentos e pinturas corporais, os bastidores de rituais e festas, a coreografia de danças e lutas. Esse olhar também guia o documentário Xingu/Terra, de 1981, sobre o cotidiano em uma aldeia xinguana, com texto e narração de Orlando. Na Bienal de Arte de São Paulo de 1975, Maureen e Orlando organizaram a sala “Xingu Terra”, com fotografias, arte indígena e uma instalação emulando uma aldeia, coordenada por um jovem líder xinguano, Aritana Yawalapiti. Mais tarde, ele viria a se tornar o cacique de seu povo e uma das principais lideranças indígenas no Brasil. O trabalho na Bienal foi o começo de uma amizade de décadas entre Maureen e Aritana, que morreu em agosto de 2020, de Covid-19. Na época, o site do IMS publicou uma homenagem de Maureen a Aritana.

Sariruá após a Festa do Javari, c. 1975. Parque Indígena do Xingu, MT. Foto de Maureen Bisilliat/ Acervo IMS

Retrato do cacique Aritana Yawalapiti, c. 1974. Parque Indígena do Xingu, MT. Foto de Maureen Bisilliat/ Acervo IMS

De madrugada, o primeiro banho das mulheres na lagoa, c. 1975. Parque Indígena do Xingu, MT. Foto de Maureen Bisilliat/ Acervo IMS


REDAÇÃO de Guilherme Freitas.

Editor-assistente da revista serrote e professor no curso de Jornalismo da ESPM-Rio. É criador e apresentador dos podcasts Xingu: terra marcada (2021) e Sertões: histórias de Canudos (2019), da Rádio Batuta.

 
 
 

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